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Oásis Cultural: um olhar sobre Cabrita da Peste

A página @culturalizese, referência em literatura e artes, trouxe uma leitura potente sobre Cabrita da Peste. Eles destacam como o livro mistura humor e ferida aberta, roteiro e romance, deboche e vulnerabilidade — criando uma experiência de leitura que é, ao mesmo tempo, espelho e catarse. Compartilho aqui a resenha completa, que me atravessou tanto quanto escrever essa história:


Em Cabrita da Peste, o leitor se vê lançado num redemoinho de emoções e risos, onde o riso vem sempre com um nó na garganta e a dor se mascara com o deboche. Este romance se ergue como uma joia rara da comédia dramática contemporânea, misturando a veia pulsante do Nordeste com as contradições emocionais da família, da juventude criativa em colapso e do Brasil profundo.


A narrativa é engenhosa sem ser pretensiosa. O autor brinca com a estrutura ao misturar roteiro e literatura, criando um jogo de espelhos entre Murilo, protagonista e autor de si mesmo, e o leitor, que se reconhece em suas fragilidades. Essa escolha estética, de cunho metalinguístico, transforma sessões de terapia em arenas de análise literária e confessional.


Lindalva, a personagem que rouba todas as cenas, surge como uma força da natureza: doce e rude, trágica e hilária, humana até o osso. Sua voz — e a de seus pares, como Rosa, Matuzael e Jailsinho — é carregada de sotaques, gírias e verdades que fazem parecer que saltaram da tela direto para a varanda da nossa vida cotidiana.


Mas o livro vai além da gargalhada fácil. Há nele uma ferida aberta: o abandono, a perda, a solidão. A comicidade é o disfarce de uma dor antiga, e é nesse equilíbrio delicado entre o trágico e o cômico que reside sua maior beleza. Cabrita da Peste sabe ser engraçado sem esconder as cicatrizes que carrega. Sabe fazer rir com lágrimas nos olhos.


E se há algo a destacar como motor narrativo, é o ritmo: fluido, certeiro, como quem domina tanto o palco quanto a página. A obra tem um potencial latente para adaptação audiovisual — não apenas pelo formato híbrido, mas pela riqueza imagética e pela cadência natural da oralidade que guia cada fala e cada silêncio.


Cabrita da Peste é mais que uma história. É um gesto de resistência, um retrato de uma juventude estilhaçada entre sonhos e desilusões, entre o riso como arma e a palavra como cura. É, acima de tudo, um manifesto emocionado — e emocionador — de quem ainda escolhe rir para não sucumbir.



Cabrita da Peste
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